segunda-feira, outubro 01, 2007

Conexão e Ação

O premiado documentário Favela Rising (2005), que conta a história do Grupo Cultural AfroReggae, foi exibido na última quarta-feira (26/09), na PUC – Rio. Dirigido pelos norte-americanos Jeff Zimbalist e Matt Mochary, o filme tem como protagonista Anderson Sá, vocalista da banda e presidente da instituição fundada em Vigário Geral. Anderson, que quase ficou tetraplégico ao se acidentar gravemente quando surfava, compareceu à exibição e ressaltou a importância da integração das várias classes sociais para a construção de um Rio melhor.
- Cada vez mais vemos que, na situação que se encontra nossa cidade, temos é que nos entender e não um ficar olhando atravessado para o outro – disse.
De acordo com o cantor, os traficantes são apenas varejistas de um grande negócio. Segundo Anderson Sá, existem dois tipos de narcocultura: a ilícita, representada pelas drogas e armas, e a lícita, que gira ao redor do tráfico.
- A narcocultura vai além da criminalidade. Existe a narcocultura lícita, que está na questão do consumo, da estética, da gastronomia , e às vezes até ultrapassa a fronteira das favelas. Têm filmes e músicas que são uma narcocultura – explica .
Anderson, que já afastou diversos jovens da vida do crime, afirmou que, ultimamente, é a própria juventude do tráfico que procura o AfroReggae com o objetivo de sair da criminalidade. Ele mostrou satisfação com os resultados obtidos com o Projeto Juventude e Polícia, em parceria com a polícia militar de Minas Gerais. O principal objetivo é reduzir as barreiras entre jovens de periferia e polícia.
- O projeto é só felicidade. Têm 15 a 20 policiais em Belo Horizonte fazendo o que o AfroReggae faz aqui no Rio. Eles entram nas comunidades e escolas das periferias de lá e dão aulas de percussão, grafite, teatro... Os policiais absorveram tão bem o que ensinamos que, hoje, são multiplicadores – comentou o artista.
Para Anderson, é preciso ignorar a idéia de que negro no Brasil, para obter sucesso, tem que ser pagodeiro ou jogador de futebol. Para o vocalista, as oportunidades devem ser iguais.
- Não adianta dar ensino ruim para o cara, que ele não vai conseguir ser médico. Experimente dar o mesmo estudo, a mesma saúde e as mesmas condições de vida de um cara da classe alta para um da favela. Esse cara da favela vai competir e vai ter o mesmo currículo que o da classe alta – disse Anderson Sá, que considera a educação importante, mas acredita que, a curto prazo, deve haver um foco maior na questão do emprego.
O artista falou ainda do projeto Favela 4, parceria entre AfroReggae, CUFA, Observatório de Favelas e Nós do Morro. A idéia, segundo Anderson, é pensar em estruturas que desenvolvam ações de melhoria, através do intercâmbio e troca de experiências entre as ONG’s.

Por Robson Santos
Foto: Gabriela Ferreira/PUC-Rio

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